Em
2011, esse democrata convicto, homem simples e de elevada envergadura
moral, que sempre se houve com serenidade, equilíbrio e coragem, faria
100 anos de vida.
Neste 2011 que se avizinha é bom lembrar figuras expressivas da vida sergipana que deram
ANTONIO CONDE DIAS - Década de 50 |
muito de si pelo desenvolvimento social e soerguimento da nossa conduta
moral, ante as perspectivas de um mundo cada vez mais conflitante, com
problemas de toda a ordem assoberbando a cabeça das pessoas, a terra
conturbada com a ambição guerreira, os confrontos religiosos e uma
humanidade ainda sem rumo definido na busca da paz, do entendimento, da
concórdia e da felicidade.
Em
23 de outubro de 1911, no lar do coronel Aurélio Rezende Dias e D.
Carmelita Conde Dias, chegava ao mundo Antonio Conde Dias, em
Irapiranga, hoje Itaporanga d’Ajuda, cidade localizada às margens do
histórico rio Vaza-Barris. Seu pai foi prefeito da cidade na década de
20 com forte presença na área de educação e proteção à infância. Menino,
iniciou os estudos com as professoras Enedina César e Carlota Sales de
Campos, mais conhecida como professora Carlotinha, uma poetisa de
delicada sensibilidade, muito amiga da família.
Tonico,
como Conde Dias era muito conhecido, passou toda a sua infância e
adolescência entre os estudos na cidade e a vida no campo, no engenho
DIRA, então de propriedade da família, com construções históricas que
hoje se constituem em patrimônio arquitetônico do Estado, conforme se
constata pela publicação Arquitetura Sergipana do Açúcar, da arquiteta
Kátia Afonso Silva Loureiro, de 1999. A
casa-grande do engenho, implantada num amplo vale, por volta de 1670,
apresentava na fachada frontal uma construção de estilo colonial, que
depois foi ampliada em novo figurino, dessa vez, neogótico, mantendo,
até os dias de hoje e de forma interessante, os dois estilos. No Dira,
passou bons momentos de sua vida, prazerosamente lembrados por crônicas
que fazia em jornais e revistas e que enfocavam a doce vida no campo, da
singela carruagem puxada por carneirinhos, dos saraus literários e dos
encontro religiosos que aconteciam na Casa Grande.
Em
1925, o casal enviou o primogênito para o internato em Aracaju, no
Grêmio Escolar, onde recebeu os ensinamentos do Dr. Evangelino de Faro e
das professoras Bezita e Leida Regis, mestras que lhe souberam
encaminhar na trilha do respeito e da moral. Nas férias, retornava a
Itaporanga. Numa dessas ocasiões, a cidade recebeu a visita de Dom José
Thomaz Gomes da Silva, primeiro Bispo de Sergipe. Entre os oradores a
saudá-lo, um se destacou pela sua juventude, menino ainda de verdes
anos: Antonio Conde Dias. Ao terminar sua saudação o bispo, comovido,
abraçou o afilhado de Crisma, destacando a sua participação. Coube ao
casal Aurélio e Carmelita a honra de hospedarem, em sua casa
residencial, o jovem Bispo que estava a visitar a cidade no desempenho
da altíssima e transcendental missão de que em Sergipe estava investido.
Após
concluir o segundo grau, em 1929, Tonico começou a trabalhar como
coletor federal, ano também em que escreveu seu primeiro artigo
jornalístico. A morte de Aurélio Dias o levou a cuidar da família, da mãe Carmelita e das
irmãs, Jaci e Lucila (Lola). Lola permaneceu solteira até falecer. Jaci
casou-se com o poeta José Sampaio, ficando viúva muito cedo, com dois
filhos ainda jovens. Tonico casou-se com Natália Sobral Prado, a quem
conheceu em Itaporanga, quando ela passou a residir na cidade, vindo de
Laranjeiras, onde nasceu e cresceu entre a cidade e o Engenho Pati e posteriormente Aracaju. Natália
foi uma figura extraordinária em toda a sua vida, pela fibra, pela
tenacidade em fazer as coisas, pelo companheirismo de todas as horas e
pela coragem de enfrentar os desafios e não ter limites para a
generosidade. Fazia exatamente o contraponto com a personalidade do
marido, que exigia dele sempre muita cautela, moderação, equilíbrio e
paciência. Ainda hoje, nossa mãe é uma líder e um exemplo vivo de
destemor e perseverança.
Entre
o trabalho na coletoria e seus escritos, Antonio Conde Dias teve uma
atuação destacada em todos os movimentos civis, políticos, sociais e
religiosos da cidade de Felisbelo Freire, tendo exercido cargos
importantes na cidade. Foi Comissário de Ensino, Diretor presidente da
Associação de Proteção à Maternidade e à Infância, diretor do Círculo
Operário e em 1942, após ingressar oficialmente na Associação Sergipana
de Imprensa – ASI, por indicação do cônego Edgar Brito, José Maria
Fontes, Raimundo Leopoldino Santana e Antonio Ferraz Alvares, foi
nomeado por Leite Neto representante do Departamento Estadual de
Imprensa e Propaganda.
Por
muitos anos, o jornalista Antonio Conde Dias foi o orador oficial da
cidade. Quando ele próprio não discursava, preparava os discursos dos
mandatários. Juscelino Kubitschek de Oliveira, percorrendo o país em
campanha presidencial, esteve pessoalmente em Itaporanga nos idos de
1955, sendo recepcionado por líderes políticos locais. Sua saudação foi
feita por Antonio Conde Dias, que carregou nas letras toda a admiração
que possuía pelo construtor de Brasília, sentimento este que manteve por toda a vida.
Havia uma foto que registrava esse momento ímpar: JK sentado, ouvindo
atentamente o discurso, com Magali (filha de Tonico, que na época
contava com 8 anos), sentada em seu colo.
Os
escritos de Conde Dias eram essencialmente fundamentados na sua
extraordinária religiosidade e o respeito que possuía pelas
instituições. A escritora e poetisa Carmelita Pinto Fontes, referindo-se
a ele, assim se manifestou: “Antonio Conde Dias pautou a sua vida pela
integridade moral e o respeito que conservava
pelos governantes (naquele tempo os governantes se faziam respeitar...)
e transmitiu para os seus filhos exemplos de retidão de caráter,
generosidade e humildade”.
Em 1947, por ocasião das comemorações do cinqüentenário do Apostolado
da Oração, Tonico compôs, em parceria com o maestro Genaro Plech, o
Hino oficial dos festejos: “Irapiranga aqui reunida, vos consagra em seu
coração, genuflexa se rende contrita, glória, amor, filial devoção...”
No ano seguinte, compôs o Hino da Padroeira da cidade, Nossa Senhora
d´Ajuda: ”Terra nobre, pujante e querida, neste dia de glória e louvor,
vem render grandiosa homenagem, à excelsa Rainha do Amor...”. O hino foi
homologado como oficial pelo Monsenhor Carlos Camélio Costa em 2 de
dezembro de 1949, mas “intrigas da terrinha” fizeram com que o mesmo
fosse esquecido por anos, sendo substituído por um outro feito para
comemorar o Congresso Eucarístico. A força da letra e a evocação à santa
fizeram com que o povo voltasse a cantar o hino oficial, o Hino da
Senhora d´Ajuda, que é entoado ainda hoje a cada 2 de fevereiro e que o
acompanhou no seu cortejo fúnebre da igreja ao cemitério, quando fechou
os olhos para a vida terrena e o abriu para a vida eterna, em janeiro de
1992.
Quando
e educação dos filhos necessitou de uma atenção mais rigorosa,
transferiu-se com a família para Aracaju, em 1961, vindo a residir na
Rua da Frente. Quando se aposentou do serviço público federal, Tonico
passou a conviver mais de perto com jornalistas integrantes da
Associação Sergipana de Imprensa, como Eliéser Leopoldino, Zózimo Lima,
Marques Guimarães, Bemvindo Salles de Campos Neto entre outros,
colaborando para o engrandecimento e o respeito da instituição, da qual
participou como membro de sua diretoria e do Conselho de Administração.
Em sua trajetória jornalística, escreveu em inúmeros jornais e revistas
de Sergipe e de outros estados, A Cruzada, O Nordeste, A Semana, O
Mensageiro da Fé, a Semana Católica, o Santuário de Aparecida e a
revista Vida Doméstica, esta editada no Rio de Janeiro. Gostava demais
de vê-lo sentado, na casa da Rua da Frente, voltado para a janela, na
sala de visita que dá para o rio que corre na nossa frente,
datilografando pausadamente, na antiga Remington, os escritos que ele
próprio levava à redação dos jornais, no dia seguinte.
Nas comemorações dos seus 80 anos, lançou o livro QUADROS DA VIDA, um breve resumo de sua vasta produção. Faleceu
em 30 de janeiro de 1992, três meses após comemorar seu 80º
aniversário. Em 2011, esse democrata convicto, homem simples, tímido,
distante das discussões estéreis, religioso por formação, homem de
elevada envergadura moral, que sempre se houve com serenidade,
equilíbrio e coragem, para externar, com sobriedade e imparcialidade, as
causas e efeitos do chamado mundo moderno, estaria comemorando cem
anos. Com rara sabedoria, tratou as questões negativas com o rigor de
seu caráter, sem destratar nem conspurcar a dignidade do semelhante. É
nisso, pois, que reside a beleza de sua obra e do seu acervo
jornalístico, como um legado para a posteridade.